PONTO DE VISTA - ENTREVISTANDO..
Em 18 de janeiro de 2008, no quadro das comemorações alusivas aos 60º ano de criação de nossa Paróquia, obtive do Pe. Agostinho Paulino de Melo, 4º vigário de Piquet Carneiro, longa e oportuna ENTREVISTA, em que o ex-pároco fala de sua formação sacerdotal, das atividades paroquiais que desenvolveu - em, pelo menos, três paróquias da Diocese de Iguatu -, de sua atuação como educador em Piquet Carneiro.
A entrevista supra também nos proporciona uma "visão" do Piquet Carneiro, na fase de transição da década de 60 para o limiar dos anos 70, quando Agostinho Paulino residiu entre nós.
Ei-la, na íntegra:
BREVE PERFIL DO ENTREVISTADO:
Pe. Agostinho Paulino de Melo, natural de Iguatu, nascido em 1934, ordenado em 1962, foi o 4º vigário de Piquet Carneiro, entre 29 de março de 1966 e 20 de janeiro de 1974. Um dos mais longos paroquiatos da história de nossa comunidade eclesial.
Osmar Filho: É com praze que nós nos encontramos aqui, com o Pe Agostinho, que foi o 4º vigário da nossa Paróquia. A paróquia vai marchando para 60 anos de instituição canonica, no próximo dia 25; e eu, com o apoio do vigário, Pe. José Batista da Silva, o atual vigário, estou fazendo este documentário... Faz pouco, encontrei-me com a irmã Assunção. E, agora, estou na residência do Pe. Agostinho, aqui em Fortaleza, neste começo de noite, dia 18 de janeiro de 2008, uma sexta-feira. No longo desta entrevista, eu vou continuar chamando-o de "padre" porque, uma vez que a pessoa foi ordenada , permanece padre "para sempre" ... Não há nenhum descuido aqui, pois, em que a gente continue nossa conversa assim. O senhor é, de fato, um sacerdote. Embora, fora do ministério, sem o exercer... O Sacramento da Ordem, não custa recordar, é indelével, isto é, marca por todo o sempre, quem o recebe... afinal... 'TU ÉS SACERDOTE PARA SEMPRE...
Pe. Agostinho (completando minha frase, com visível contentamento): ... "SEGUNDO A ORDEM DO REI MELQUISEQUE!'...
Osmar Filho: Para mim, essa alegria se torna ainda maior, por conta de o senhor ter sido o padre que me batizou.. (risos) Muito bem! Vamos lá! Nós poderíamos, então, enveredar por aqui: o senhor pode falar um pouco sobre seus estudos no Seminário da Prainha, data de ordenação, suas primeiras experiências como sacerdote em Senador Pompeu... até chegar a Piquet Carneiro... Vamos conversando espontaneamente... O senhor é natural de?
Pe. Agostinho: Sou de Iguatu... Entrei no Seminário no dia 11 de fevereiro de 1949... Garotinho ainda, não é? E fiquei lá durante 12 anos, entre seminário menor e seminário maior. E me ordenei lá em Iguatu mesmo, no dia 23 de setembro de 1962. Um dia de sábado. 5 horas da tarde. Muita gente! Distribui muitos santinhos. 5 mil santinhos foram distribuídos, e quem me ordenou foi dom Mauro...
Osmar Filho: ... Por dom Mauro! Dom Mauro, então, recém-chegado a Iguatu, é isso?
Pe. Agostinho: É... Ele tinha chegado em fevereiro, e eu me ordenei em setembro, dia 23. Aí passei uns 8 ou 10 dias em Iguatu, e ele me nomeou logo coadjutor no Icó. O vigário era o Pe. Macedo. Cheguei lá, mais ou menos, no dia 11 de janeiro de 1963. Fiquei, no Icó, com o trabalho paroquial, com a parte de juventude.. Fiquei mais nessa parte... O Pe. Macedo ia mais às capelas, não é? E eu fiquei mais com os trabalhos dentro da própria cidade mesmo. Passei lá uns 2 anos e 4 meses.. Então, foi o tempo que o Pe. Salmito, vigário de Senador Pompeu, estava sozinho, à frente de uma paróquia muito grande ... Aí dom Mauro me mandou para Senador Pompeu, como coadjutor... Isso foi em fevereiro de 1964.
Osmar Filho : Ali, pertinho da época da Revolução Mililar...
Pe. Agostinho: É... Justamente! Nós pegamos a Revolução... Até nossa casa foi invadida, não é? Pelos líderes, aquele negócio todo.. Daí eu fiquei com o Salmito lá, em Senador, mais uns dois anos. Dois anos e poucos meses... Quando o Pe. Teixeira saiu do Piquet Carneiro, a paróquia ficou vacante, sem vigário, sem padre... Aí dom Mauro disse: Você tem que sair de Senador e vai assumir Piquet Carneiro. Eu disse: Mas, dom Mauro? Isso foi em março... as aulas tinham começado, e eu era professor. Eu falei: tudo bem! E dom Mauro: Você me prometeu obediência! Eu disse: agora, Dom Mauro, me dê um pouquinho de tempo enquanto eu organizo lá o colégio... Aí falei com a irmã, a diretora... Quando foi no dia 29 de março, uma segunda-feira, eu toquei para Piquet Carneiro...
Osmar Filho: Houve, como de praxe, a posse, não é? Isso foi um ano antes de eu nascer. Eu sei, pelas minhas pesquisas. 29 de março de 1966, a data.. (risos)
Pe. Agostinho: Pois é! Justo! 29 de março de 1966. Mas isso, Osmar, foi um transtorno! Eu havia saído de uma atividade como professor , como capelão, para assumir uma paróquia... Eu não tinha, na verdade, muita habilidade para isso. E, para completar, estava só! Porque, no Icó, eu ficava com o Pe. Macedo; em Senador, com o Pe. Salmito.. E lá, no Piquet, eu ia ficar só.
Osmar Filho: O desafio mesmo era, agora, gerir a Paróquia...
Pe. Agostinho: Isso. E aí, no contato com a realidade, através das e nas reuniões, eu soube que havia umas capelas: Mulungu, Ibicuã e, nessa época, também, São Bernardo.. hoje, Irapuan Pinheiro, que não pertence mais a Piquet Carneiro, e o Teixeira é que é o vigário de lá.
Osmar Filho: Exatamente.
Pe. Agostinho: Eu passei lá esse tempo todo, como você já sabe, lecionando, no colégio da CNEC, e assumindo a paróquia: primeiro domingo, na cidade; segundo, em Ibicuã; terceiro, em Mulungu; e o quarto, em Piquet Carneiro.
Osmar Filho: Havia alguma Comunidade Eclesial de Base? Elas, afinal, estavam começando a surgir...
Pe. Agostinho: Havia o grupo das Mães Cristãs... O Apostolado da Oração. Por sinal, do qual sua mãe fazia parte...
Osmar Filho: .. a mamãe, dona Maria do Carmo, dona Neuzita, dona Alzerira...
Pe. Agostinho: ... Justamente. Essa turma mesmo! E a gente fazia nossas reuniões no Círculo Operário, que, eu até ouvi falar, o prédio tinha sido demolido...
Osmar Filho: É verdade! É lamentável! Mas o prédio foi, de fato, demolido...
Pe. Agostinho: Foi mesmo?! Que pena! Uma tristeza!
Osmar Filho: Falemos agora sobre a CNEC. Porque é interessante a agente registar também as marcas que o senhor deixou ali impregnadas, num setor tão importante, quanto o da Educação. Isso vai de 1966 a 1973. Por exemplo, o Corpo Docente que o auxiliou, seus cooperadores... quais, quem foram eles?
Pe. Agostinho: Os professores que trabalharam comigo no ginásio Coração de Jesus foram: o Viana, a Jesus Aires, a Jarina, a Francisca de Morais, o Agenor Bezerra, a Odete, a Lauzimar, o Roberto (do Adalberto) e a Inês, irmã dele, que foi secretária...
Osmar Filho: Vamos agora ao maior desafio que o senhor encontrou, em termos de administração paroquial. Piquet Carneiro, uma paróquia localizada no Sertão Central, anos 60, 70 ...eu quero a maior dificuldade mesmo... entre tantas, eleja uma!
Pe. Agostinho: Osmar, uma grande dificuldade que eu encontrei lá, foi a parte financeira. A gente queria fazer algum trabalho, construir alguma coisa, e não era possível . E até que a gente se mobilizava... Seu Joca, dona Maria... aqueles grupos.. nos reuníamos, e fomos fazer a limpeza da igreja. A maior dificuldade era esta mesmo esta: a parte financeira.
Osmar Filho: Logicamente, ainda não havia a Pastoral do Dízimo, não é?
Pe. Agostinho: Não! Não havia...
Osmar Filho: Hoje nós a temos. Mas ainda engatinhando... com muita dificuldade...
Pe. Agostinho: Ah, hoje tem, não é? Que bom! No meu tempo não tinha. E quantas vezes... eu lecionava, era diretor... aí acontecia que, algum dinheiro que eu recebia, eu botava na paróquia, para fazer face à despesa com alguma coisa... Mas, que foi de muita dificuldade, isso foi.. Oito anos! Olhe: eu fui o vigário que passou mais tempo em Piquet Carneiro.
Osmar Filho: Mas o Freire também passou um bom período, em torno de 7 ou 8 anos, porque ele ficou de 48 a 55. Depois, o Alberto, o Teixeira, aí o senhor chega, foi o 4º.
Pe. Agostinho: Eu fui o 4º, não foi? Certo. Depois de mim, Piquet Carneiro ficou sem vigário muito tempo, foi isso?
Osmar Filho: Exato. A partir de 2001 é que vamos ter vigário residente. Havia aquele atendimento emergencial, nos fins-de-semana. Depois, tivemos as irmãs Tereza e Assunção, que prestarem relevantes serviços na organização paroquial; depois, em tempos mais recentes, as Filhas do Coração de Maria também deram seu significativo contributo.
Pe. Agostinho: Pois é... É bom saber disso.
Osmar Filho: Seu governo paroquial, de março de 1966 a janeiro de 1974, coincide, fortemente, com a renovação litúrgica promovida pelas decisões conciliares , não foi?
Pe. Agostinho: Ah, sim, o Concílio! Claro, claro! Aliás, minha turma, a de 1962, foi ordenada antes do tempo previsto, por conta do Concílio Vaticano II, porque os senhores bispos tinham que viajar em outubro... Assim , uns foram ordenados em julho; outros, em agosto; e eu, em setembro...
Osmar Filho: Pois é.... Dom Mauro, bispo novo na época, também teve que, naturalmente, seguir para Roma... Era tradição, me esclareça, por aqueles tempos, as ordenações acontecerem em dezembro, na Solenidade da Imaculada?
Pe. Agostinho: Exato. Era no dia 8 de dezembro. Mas, em 62, como já te falei, houve essa exceção.
Osmar Filho: O senhor chegou a celebrar em latim?
Pe. Agostinho: Não. Celebrei já em português. Sabe, Osmar, em 1962, já havia aquela facilidade: usava-se , ou não se usava, por exemplo, a batina, etc e tal. Nem a batina branca eu usava. (risos).
Osmar Filho: Retomemos o tema de sua atuação na área Educacional do Piquet Carneiro. Alguém me informou (na verdade, o Domingos, meu irmão) que o senhor costumava escrever, ensaiar e dirigir peças teatrais. Onde se davam as apresentações? Na escola? No Círculo Operário? Quem eram os atores?
Pe. Agostinho: Havia isso, sim. Eu tinha curso de "dramaturgia", feito no seminário, já representava monólogos... e inventei isso lá no Piquet (risos). E a turma representava. A Graça (esposa dele) representava; tinha a Jarina, o Jairo; acho que o Moisés. Eram os alunos do próprio colégio. E a gente preparou uma peça: a Escrava Isaura..
Osmar Filho: Ah! do Bernardo Guimarães...
Pe. Agostinho: É. A Escrava Isaura. Encenamos em Piquet Carneiro, e chegamos a ir a Madalena. Fomos também, com o apoio do Pe. Geraldo Dantas, de saudosa memória, a Pedra Branca, Quer dizer a gente ia, e contava com o apoio do próprio vigário (dos lugares aonde íamos). Eu ligava, entrava em contato.
Osmar Filho: E a "Voz da Paróquia"? Quem fazia parte? (risos)
Pe. Agostinho: Ah! Rapaz, a Voz da Paróquia foi a melhor coisa que podia ter existido. Não existia energia naquela época. Então tinha o motor paroquial. Eu combinei com o prefeito, que era Luiz Aires nesse tempo, ele dava o óleo, e eu entrava com o motor... Só tinha energia mesmo na casa paroquial e, naquela ruazinha dele ali, até a Igreja. Até a igreja tinha, não é? Aí a gente aproveitava justamente a energia, desse motor, para a televisão. A televisão começou, em Piquet, nessa época. Até para ver a novela - eu tinha uma televisão e levava ali para a Coletoria, colocávamos num pedestal... A multidão, , de gente, que se concentrava, porque não tinha outra coisa, Osmar, você não queira saber... (risos)
Osmar Filho: Era o cinema... O cine-piquet! (risos)
Pe. Agostinho: Era o cinema. (risos). E eu me lembro até do nome da novela... era "Simplesmente Maria"...
Osmar Filho: Isso era o quê? 1970, 1971?
Pe. Agostinho: Era 70 ou 71, por aí.. Faz muito tempo! Então, tinha a Voz da Paróquia. O locutor... era o Ivanildo, a Graça, a Jarina...
Graça canta muito bem, e que você a acompanhava ali ao violão... Era, claro, para dar mais vida às noites do Piquet... (risos)
Pe. Agostinho: É... eu tinha um violãozinho.. Mas aquilo a gente deixou...
Osmar Filho: Não conseguiram lançar sequer um LP? (risos)
Pe Agostinho: Pois é! Não. (risos). Então, ao invés de os jovens ficarem pelo centro da rua ou na praça.. ia era todo mundo para a casa paroquial. Aí eu ficava ali com o violão, tocando... a turma cantando.. A Graça, a Nice. Ficávamos até 9, 9 e meia da noite. Mas chegava a hora que eu dizia: agora vocês vão para suas casas, amanhã tenho que acordar cedo... tem escola... etc..
Osmar Filho: Pelo visto, o senhor deixou boas amizades, boas recordações lá no Piquet..
Pe. Agostinho: É. Graças a Deus. Sempre procurei fazer a minha parte. E minha parte era a paróquia e a escola. Nunca me envolvi em política. Procurei não me envolver. Havia o convite para eu participar das sessões, dos eventos... Mas eu dizia isso: minha missão é a escola, a educação, a paróquia... A Política é com vocês.
Osmar Filho: Agora, a mensagem conclusiva para os piquet carneirenses ...
Pe. Agostinho: (pausa, pensativo) Uma mensagem para o pessoal de Piquet Carneiro! Uma terra que eu quero muito bem; que deixei por motivos particulares. Mas quero muito bem a esse povo, meus ex-paroquianos. Eu sei que, nesses mais de trinta anos que eu sai de lá, Deus já levou muita gente... Mas esses que estão lá, que não são do meu tempo... para eles eu mando uma mensagem: que continuem estudando muito; a valorização intelectual é muito importante na vida da gente, não é? E, sobretudo, a parte com Deus é muito importante. Sem Deus, a gente nada pode fazer, não é? Com Deus, tudo se torna possível. Então, é bom que essa juventude cresça mais junto de Deus; vá mais à Igreja... Hoje, com essa dissipação de tanta droga... falta de respeito ao professor... falta de respeito aos pais... Que se unam mais, pedindo a Deus que abençoe a própria cidade. E eu , particularmente, como padre, dou a minha bênção sacerdotal a Piquet Carneiro; que Deus faça dessa cidade... uma cidade, cada vez mais, voltada para Ele; e uma cidade muito social. Esta é a mensagem que eu mando para todos os meus amigos de Piquet Carneiro, nesses 60 anos de criação da paróquia de lá.
Osmar Filho: Muito obrigado pela atenção que me foi dispensada pelo senhor.
Pe.Agostinho. Obrigado também.
(TRANSCRITA POR MIM, OSMAR FILHO, A PARTIR DE FITAS EM VHS) - ARQUIVO DO AUTOR DESTE BLOG.
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