HISTÓRIA DA IGREJA - 1
MORTE E EXÉQUIAS DO PAPA BENTO XV (VER FOTO ABAIXO) REALIZADAS NO VATICANO, ENTRE 22 E 26 DE JANEIRO DE 1922.
BENTO XV GOVERNOU A SANTA IGREJA, DE 3 DE SETEMBRO DE 1914 ATÉ SUA MORTE, OCORRIDA NA MANHÃ DE 22 DE JANEIRO DE 1922.
O TEXTO A SEGUIR, ESCRITO EM JANEIRO DE 1922, FOI PUBLICADO NA REVISTA MENSAGEIRO DO CORAÇÃO DE JESUS, EDIÇÃO DE FEVEREIRO DE 1922.
TRATA-SE DE UM RARO E PRECIOSO ARTIGO SOBRE A MORTE E, POR CONSEGUINTE, SOBRE AS SOLENES EXÉQUIAS DO PAPA BENTO XV, FALECIDO EM 22 DE JANEIRO DE 1922.
IMPORTANTE:
PRESERVEI A "GRAFIA ORIGINAL", PARA PLENO EFEITO DE HISTÓRIA:
"ROMA - O luto mais grave e imprevisto acaba de envolver o mundo cathólico: o S. Padre, o Papa Bento XV morreu inesperadamente pelas 6 horas da manhã do dia 22 de janeiro, com apenas 67 annos e mezes de edade e 7 de um pontificado dos mais agitados e dos mais gloriosos.
Breve em tudo foi a moléstia que no-lo roubou: uma influenza pneumonica, que nos eu período alarmante não se prolongou além de quatro ou cinco dias apenas. Por isso o assombro foi geral, e a ferida no coração dos filhos mais profunda e sensível, tendo chegado a notícia da perda irreparável quando mal se começava a rezar pela conservação da vida preciosa do Pae amado de todos os infelizes, do grande Pontífice da paz e da reconciliação dos povos. Foi esta a empresa que lhe absorveu todas as energias nos annos do seu governo, esta a aspiração e a preocupação até dos últimos instantes de sua preciosa existência. Pois enquanto resignado no leito de seus soffrimentos, dizia: Se o bom Deus julga acabada a minha missão neste mundo, seja feita a sua vontade - acrescentava logo em seguida que, se tinha algum pezar, era o de lhe não ser permittido ver realizado o seu sonho mais querido: a reconciliação da Santa Sé com a Itália e a pacificação geral de todo o mundo. E com voz débil e commovida: Deixo, dizia, deixo este encargo ao meu sucessor, e estou convencido de que com o auxílio de Deus se sahirá bem nesta empresa. E de paz e reconciliação falou até o ponto de perder os sentidos e o cohecimento, tendo sido as últimas palavras que pronunciou, as seguintes, que bem resumem todo o espírito que animou a sua acção como Pontífice: Eu daria muito de boamente a vida pela pacificação do mundo.
Bento XV foi para todos os povos um pae amoroso, remediando, attenuando os sofrimentos por meio de agentes enviados a toda a parte, fazendo appelo à clemência dos vencedores, e solicitando a generosidade dos ricos e dos neutros.
Todos conhecem essa prodigalidade da acção de caridade do saudoso pontífice. Todos admiram a sua imparcialidade e justiça, distribuindo os socorros sem accepção de nacionalidade nem de religião. Do reconhecimento dos beneficiados, é uma prova a estátua d´elle, que se inaugurou a 11 do passado mez de dezembro em Constantinopla, na Cathedral Franceza.
Esta estátua foi paga por uma subscripção exclusiva dos mahometanos, em gratidão das demonstrações de caridade do Papa em favor dos turcos, e à sua inauguração presidiu Abdul Mudigd, herdeiro do throno da Turquia e do Kalifado.
Sua habilidade, sua mansidão, sua indulgente caridade no julgamento dos actos humanos e dos erros dos governos, sem todavia transigir com os princípios eternos da revelação, granjeou-lhe sympathias, favorecidas aliás pela experiência das ilusões dos adversários da Egreja.
Assim, nunca foi maior o prestígio da Santa Sé em todo o mundo.
Graças à sua ação política estão acreditados junto ao Vaticano os embaixadores de 32 povos, sendo alguns de heréticos e pagãos.
Entre elles notam-se os da Suissa, da França e de Portugal que tinham rompido relações com o Papa.
A expansão do Catholicismo em todo o mundo é demonstrada pela creação de sete arcebispados, vinte e um bispados, nove delegações apostólicas, creados nos sete annos do pontificado de Bento XV.
Dessas últimas instituições, algumas foram requeridas pela acção conciliadora do Papa no Oriente, com grande impulso da civilização e prestígio da Egreja, - outras tendem à catechese dos pagãos em várias partes do mundo, sendo três dellas fundadas no Brasil, onde não chega a acção dos bispos pela insufficiência do clero nacional.
A creação dessas prefeituras e de vários bispados em nossa pátria é uma prova da solicitude do Papa e do seu amor ao Brasil, menifestado em todas as ocasiões de visita dos nossos compatriotas.
É, pois, com intensa saudade que registramos o fallecimento de Bento XV, cuja alta cultura intellectual, piedade intensa, caridade inexcedível e habilidade política todo o mundo proclama.
RITOS EXEQUIAIS
O corpo do Papa defunto, revestido dos habitos pontificaes, foi exposto primeiramente aos visitantes na sala chamada do throno,e depois em S. Pedro, onde nos três dias seguintes foram celebradas exequias solennes pelo Capítulo Vaticano e mais corporações do Clero de Roma. Interminável foi a procissão dos fiéis que commovidos se succederam, desfilando deante dos restos mortaes do Pai amado e beijando-lhe ainda uma vez o pé sagrado.
Até às 9 horas da manhã de 25, mais de 500.000 pessôas tinham passado em frente ao corpo de Bento XV.
No dia 26, em presença dos membros do Sacro Collegio, diplomatas, prelados e nobreza romana, foi o corpo collocado no túmulo provisório da Basílica de S. Pedro.
O simples caixão de madeira foi encerrado em outro de cypreste, dentro do qual monsenhor Sanz de Sampor, mordomo do Papa, depositou três saccos contendo, respectivamente, as medalhas de ouro, prata e bronze cunhadas durante o pontificado de Bento XV. O primeiro Cardeal creado pelo Papa morto, collocou no caixão um tubo de zinco contendo um pergaminho com o histórico do reinado de Bento XV.
O mordomo passou um véo branco pelo rosto do Santo Padre e monsenhor Respighi cobriu o corpo com uma colcha de sêda escarlate. Antes de ser sellado o caixão, o protonotário do Vaticano, auxiliado por um dos membros da administração pontifícia, ajoelhado, leu o attestado de inhumação do pontífice. O ataúde foi então pregado e sobre cada prego collocado um sello rubricado pelo mordomo e o arcipreste da Basílica.
I
sto feito, o segundo caixão foi encerrado em um terceiro de zinco que, pela sua vez, foi sellado pelo Cardeal Merry del Val. O terceiro caixão passou ´para outro de madeira de castanheiro e encerrado no túmulo provisório.
No entanto, continuam as manifestações de pezar pelo fallecimento do Summo Pontífice Bento XV. Dos mais distantes paises chegam a diariamente a Roma inequívocas demonstrações dos mais vivos sentimentos e ao mesmo tempo se frisa o muito que fez, durante os sete annos de pontificado, pela civilização e pela humanidade, o Papa da Paz.
PEZAMES DO POVO BRASILEIRO - Foram estes os termos do telegramma, que o Sr. Presidente da República mandou expedir a Sua Eminência o Cardeal Camerlengo da Santa Egreja Romana, por ocasião do passamento de Sua Santidade o Papa Benedicto XV: "Apresento a Vossa Eminência Reverendíssima e ao Sacro Collegio, em nome da Nação Brasileira e no meu próprio, os mais sentidos pezames pelo fallecimento do Summo Pontífice Benedicto XV. (a) Epitacio Pessoa, Presidente da República.
MAIS CONDOLÊNCIAS: O Sacro Collegio recebeu telegrammas de condolencias do rei da Hespanha, dos presidentes da Suissa, do Perú, da Áustria, do Paraguay, dos ex-rei e rainha de Portugal e da Bulgária, do príncipe Rupprecht da Baviera, do príncipe de Mônaco, dos presidentes da Câmara e do Senado de Malta e da delegação nacional armênia, e em geral de quasi todas as nações e estados do mundo."
FONTE: MENSAGEIRO DO CORAÇÃO DE JESUS - FEVEREIRO DE 1922.
Observação: Texto digitado e postado - respeitando-se, na medida do possível, a ortografia então vigente -, pelo professor Osmar Lucena Filho.
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