ELEIÇÃO DO PAPA JOÃO XXIII
Pio XII morreu em 9 de outubro de 1958 deixando no "ar" a sensação de ser alguém "insubstituível", dada a magnitude de sua sapiência, no conduzir os destinos da Igreja, durante 19 anos, de 1939 a 1958.
Mas os cardeais reunidos em Conclave não demoraram em face da tarefa de escolher o substituto do Papa Pacelli (Pio XII): no dia 28 de outubro de 1958, ao terceiro dia de votação, a "sfumata bianca" (fumaça branca) já era visível sob a chaminé da Capela Sistina, sinal evidente de que a catolicidade tinha um novo guia. O eleito foi o cardeal-arcebispo de Veneza, ANGELO GIUSEPPE RONCALLI, que adotou o nome de João XXIII. Tinha 77 anos. Roncalli havia recebido 40 votos.
Coube ao cardeal Tisserant, decano do Sacro Colégio, perguntar ao neo-eleito se ele aceitava o Supremo Pontificado e com que nome gostaria de ser reconhecido. Roncalli respondeu em latim: "Ao escutar tua voz, eu fremi e tremi. O que sei de minha pobreza e de minha humildade, basta para confundir-me. Mas, vendo nos votos de meus irmãos, os eminentíssimos cardeais da Santa Igreja Romana, o sinal da vontade de Deus, aceito a eleição que fizeram: baixo a cabeça e curvo a espinha diante do cálice da amargura e sob o peso da cruz. Na solenidade da festa de Cristo-Rei, cantamos todos: o Senhor é nosso juiz, o Senhor é nosso legislador, o Senhor é nosso rei: Ele nos salvará..."
Em resposta à segunda pergunta, sob qual nome reinaria, Roncalli disse: "Veneráveis irmãos, eu me chamarei João (em latim: Vocabor Ioannes!). Este nome nos é doce, porque é o nome de nosso pai. Ele nos é doce, porque é o título da humilde paróquia onde recebemos o batismo. É o nome solene de inúmeras catedrais espalhadas pelo mundo inteiro, e, em primeiro lugar, da santa e sagrada basílica de Latrão, nossa catedral. É o nome que na longuíssima série dos pontífices romanos, goza da primazia numérica. Com efeito, 22 soberanos pontífices, que se chamaram João e cuja legimitidade é indiscutível, são enumerados. Preferimos cobrir a pouca importância de nosso nome atrás desta magnífica sucessão de pontífices romanos. E São Marcos Evangelista, glória e protetor de nossa muita querida Veneza, aquele que São Pedro, príncipe dos apostólos e primeiro bispo da Igreja Romana, amava como um filho, não se chamava, ele também, João? Mas nós amamos o nome de João, que nos é caro e a toda a Igreja, muito particularmente pelo fato de que nos foi trazido por dois homens que estiveram pertinho de Cristo, Senhor Redentor divino do mundo e fundador da Igreja. João Batista, o precursor de Nosso Senhor. Ele não era certamente a luz, mas era a testemunha da luz. Foi verdadeiramente uma testemunha invIcta de verdade, de justiça, de liberdade, na prédica, no batismo, na penitência, no sangue vertido. E o outro João, o discípulo e o evangelista querido de Cristo e de sua dulcíssima mãe e que, quando da última Ceia, colocou sua cabeça no ombro Senhor e daí tirou esta caridade que, até a sua velhice extrema, foi uma chama viva e apostólica. Que Deus queira que a voz dos dois Joões se faça ouvir em toda a Igreja pelo nosso humilde ministério pastoral, que sucede àquele, bem conduzido de maneira tão bela pelo nosso lastimado predecessor Pio XII. (...) Deus queira nos conceder, na sua benevolência, veneráveis irmãos, que nós, que trazemos o mesmo nome do primeiro desta série de soberamos pontífices, possamos, com a ajuda da graça divina, ter a mesma santidade de vida e a mesma força de espírito que ele, à efusão do sangue, se agradasse a Deus que assim fosse." ( Cf. História Secreta dos Conclaves - Paz e Terra - 1971).
"Uma emoção silenciosa, conta o cardeal Gerlier, apoderou-se todo o conclave que realizou o que era uma grande hora para a Igreja... Estava, pois, feito. O cardeal Roncalli tornou-se o Papa João XXIII, o chefe da Igreja, o Pai de todas as almas, o Vigário de Jesus Cristo." (Cf. História Secreta dos Conclaves - Paz e Terra - 1971).
O momento culminante do papado de João XXIII foi, sem dúvida, a convocação do Concílio Ecumênico Vaticano II, por ele solenemente inagurado no dia 11 de outubro de 1962.
"João XXIII era devorado por uma moléstina interna. Havia um ano, tinha crises hemorrágicas devidas a um câncer. A 22 de maio de 1963, ele apareceu pela última vez em público, à janela de seu escritório. Na noite de 30 para 31 de maio, seu estado agravou-se repentinamente em consequencia de uma inflamação generalizada do peritônio, consecutiva à difusão da heteroplasia do estômago. A 31 de maio, com plena lucidez, recebeu os últimos sacramentos e ofereceu sua vida pelo bom êxito do Concílio e para a paz entre os homens. Morreu a 3 de junho de 1963, às 19 horas e 49 minutos, dez minutos antes do fim da missa que se elebrava, em sua intenção, na praça de São Pedro, diante de uma enorme multidão." (Cf. História Secreta dos Conclaves - Paz e Terra - 1971).
Escreveu duas encíclicas memoráveis: Mater et Magistra (Mãe e Mestra), em 15 de maio de 1961; e Pacem in Terris (Paz na Terra), de 11 de abril de 1963.
Em setembro de 2000, o papa João Paulo II o beatificou.
Em janeiro de 2001, João XXIII teve seu corpo exumado, quando, para surpresa geral, estava, de todo, bem preservado. Está exposto, numa urna de vidro, à visitação dos peregrinos, no altar de São Jerônimo, na Basílica de São Pedro.
Pesquisa e texto deste artigo: OSMAR LUCENA FILHO
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